Algumas estratégias da luta contra os quilinhos extras são tão batidas que a gente nem questiona sua veracidade. Quantas vezes você não ouviu nutricionistas e endocrinologistas dizerem que tomar café da manhã é essencial para emagrecer? E que o efeito ioiô é perigoso? Pois em 2012 um grupo de 20 cientistas reuniu-se com um propósito: tirar a limpo afirmações tidas como verdadeiras quando o assunto é perda de peso.

A equipe liderada por David Allison, diretor do Centro de Pesquisas de Nutrição e Obesidade da Universidade do Alabama em Birmingham, nos EUA, selecionou 22 premissas e, durante seis meses, procurou evidências que embasassem cada uma delas. O resultado é que sete revelaram-se mitos (contradizem as pesquisas científicas), seis são suposições (não têm comprovação) e nove são fatos.

As conclusões foram divulgadas em janeiro no prestigioso periódico americano New England Journal of Medicine. "Essas afirmações tão difundidas influenciam políticas de saúde pública", diz Allison, justificando a importância do estudo. "Se tais crenças estão incorretas, então as estratégias adotadas para combater a obesidade podem ser ineficazes ou menos efetivas do que deveriam ser."

Selecionamos então seis mitos e suposições largamente aceitos e conversamos com especialistas para ajudá-la a escapar de ciladas que podem colocar em risco o contorno da sua silhueta.

Veredito: SUPOSIÇÃO
A afirmação interpreta o ato de petiscar como um impulso voltado, principalmente, a alimentos gordurosos e sem valor nutricional relevante - o que não é uma regra. "Programar lanches saudáveis entre as refeições auxilia no emagrecimento e ajuda a controlar essa propensão a atacar o que estiver por perto", contrapõe o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Fique atenta às escolhas. Se tem o hábito de beliscar, deixe por perto porções pequenas de oleaginosas, por exemplo. E não dispense a garrafinha de água, que ajuda a saciar a fome e a amenizar a ansiedade.

Veredito: MITO
A energia gasta durante uma transa depende de variáveis como peso e gênero da pessoa e duração do ato. Ainda assim, o único estudo com fundamentos científicos encontrado sobre o assunto data de 1984 e conclui que um homem de 70 kg queima 3,5 calorias por minuto de rala e rola. A média de tempo do ato é outra decepção: 6 minutos. Ou seja, em média, uma transa elimina 21 calorias. Se o mesmo homem passasse esses minutos sentado vendo televisão, gastaria 1/3 desse valor.

Veredito: SUPOSIÇÃO
Isso é sustentado pela ideia de que, se você pular essa refeição, vai compensar comendo mais depois. A equipe de David Allison apontou a ausência de dados suficientes que confirmem essa relação de causa e efeito. "Depende dos hábitos da pessoa", afirma Fontaine. "Se ela tem mais voracidade na hora do almoço, o café ou o lanche da manhã podem servir como um remédio inibidor do apetite, mas nem todos os indivíduos sentem mais fome nessa hora do dia", diz Mancini.

Veredito: MITO
"Depois de um processo de emagrecimento veloz, o corpo diminui o metabolismo e lança mecanismos hormonais para recuperar os quilos perdidos", afirma Claudia Cozer, endocrinologista e coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. "Ainda assim, o efeito rebote vem muito mais dos hábitos que você mantém depois dessa perda maior de peso do que da velocidade com que emagrece." Por isso, é importante manter uma dieta equilibrada e praticar atividades físicas para estabilizar o ponteiro da balança.

Veredito: SUPOSIÇÃO
"As pessoas acham que, por serem naturais, esses alimentos são pouco calóricos, o que não é verdade", diz Mancini. O suco de laranja tem quantidade de açúcar semelhante à de um refrigerante. Outros exemplos de alimentos altamente calóricos são o abacate, a melancia e os tubérculos (batata, mandioca). Se a intenção é emagrecer, fique atenta à quantidade de gordura e açúcar dos alimentos.

Veredito: SUPOSIÇÃO
A base disso vem de estudos observacionais em que pessoas com um peso estável tinham taxas de mortalidade inferiores àquelas que apresentavam oscilação na balança ao longo dos anos. "Nunca ninguém provou se a causa da maior taxa de mortalidade é o emagrece-eengorda ou o tempo em que essa pessoa passou acima do peso", diz Mancini. "É mais provável que o agente causador seja o último."